UConecte---22-de-Setembro-Mobilidade-e-Desigualdade

22 DE SETEMBRO – UM CONVITE À REFLEXÃO SOBRE MOBILIDADE E DESIGUALDADE

Por Instituto Corrida Amiga

Desde que os carros chegaram às ruas (final do século XIX e início do século XX), mataram mais de 60 milhões de pessoas — uma em cada 34 mortes no planeta é causada pela automobilidade — e feriram pelo menos 2 bilhões em todo o mundo. O uso excessivo dos carros intensifica as desigualdades sociais e danifica ecossistemas. Isso ocorre em uma realidade onde apenas 16 em cada 100 habitantes do planeta têm carros, mas todos sofrem os problemas gerados por esse meio de transporte, especialmente as populações mais vulneráveis: pessoas pobres, negras e indígenas (Miner et al., 2024).

Na década de 1990, ações de “Dias Sem Carro”, impulsionadas pela crescente consciência sobre sustentabilidade e impacto ambiental da mobilidade urbana, começaram a se espalhar pelo mundo. Essas discussões permanecem tão relevantes que várias cidades ampliaram os eventos para o mês inteiro, transformando setembro no mês da mobilidade. O Dia Mundial Sem Carro chegou ao Brasil no início dos anos 2000, como parte deste movimento global por cidades mais sustentáveis. Mais do que simplesmente “deixar o carro em casa”, o objetivo é discutir o direito à cidade e ressaltar a prioridade dos modos ativos de transporte — prioridade já conquistada em marco legal, mas que precisa urgentemente ser implementada “no chão das ruas”. É importante notar que 70% dos domicílios formados apenas por pessoas negras não possuem automóveis (Pereira, 2021). Portanto, discutir uma cidade livre de automóveis implica abordar a restrição de privilégios predominantemente associados à população que constitui o principal grupo detentor de veículos particulares (Pereira; Trói; 2022)  

Essa desigualdade também é evidente na cidade de São Paulo, como revela o Mapa da Desigualdade 2022. O estudo mostra que as periferias, predominantemente negras e jovens, são as mais impactadas pelo crescimento urbano e o modelo carrocêntrico. É importante ressaltar que essas populações dependem de um transporte público de baixa qualidade, devido à falta de investimentos, e enfrentam barreiras econômicas e acesso limitado à infraestrutura e serviços essenciais, como saúde, educação e lazer. Além disso, elas convivem com os efeitos negativos da expansão carrocêntrica, como poluição, ruído e aumento de sinistros de trânsito. A priorização dos carros agrava as desigualdades e reforça o racismo estrutural, pois restringe o acesso a oportunidades e expõe a população periférica a crises e desastres ambientais.

Mobilidade Ativa

Todas as formas de transporte movidas pela energia e vida dos corpos! A Mobilidade Ativa abraça a inclusão, promove a saúde, economiza recursos e minimiza o impacto ambiental. No entanto, apesar de seus benefícios, ainda são frequentemente negligenciados: as condições adversas da infraestrutura urbana e dos serviços públicos tornam o ato de caminhar e pedalar desafios diários, muitas vezes inseguros e inacessíveis.

Para muitos, caminhar ou pedalar não são escolhas, mas necessidades impostas pela falta de alternativas, seja pela ausência de um transporte público eficaz ou pela escassez de recursos para pagar uma passagem. A integração entre mobilidade ativa e transporte público coletivo é essencial para a construção de cidades sustentáveis e inclusivas, sendo um caminho para reverter a lógica atual.

O Instituto Corrida Amiga apresenta a exposição ‘Mobilidade Ativa: conectando pessoas e espaços’ na Unibes Cultural, durante os meses de setembro e outubro de 2024. A mostra convida o público a refletir sobre a vivência da cidade por meio dos corpos em movimento, com fotos e vídeos que resultam da aplicação de nossas metodologias lúdico-educativas e do olhar sensível de fotógrafos colaboradores, além de dados de pesquisas relevantes. A exposição está dividida nas seguintes seções: Saúde; Acessibilidade; Infância; Cultura; Sustentabilidade; Pessoa Idosa (60+); Transporte Público coletivo. Além disso, prestamos homenagem à ciclista Marina Kohler Harkot, vítima de atropelamento enquanto pedalava, e celebramos seu legado na promoção da mobilidade ativa.

Mobilidade e Saúde

Você está cuidando da sua saúde? Caminhar regularmente reduz o risco de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e doenças cardíacas. A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana. A caminhada diária pode melhorar o humor, reduzir sintomas de depressão e ansiedade, e aumentar o bem-estar geral. Estudos mostram que a prática regular de caminhadas está associada a uma redução significativa na mortalidade precoce. Caminhar regularmente traz inúmeros benefícios à saúde. Caminhar pelo menos 4 mil passos por dia pode reduzir o risco de morte por qualquer causa (Banach, 2023). Além disso, através da caminhada você pode se integrar ainda mais com o ambiente e a sociedade. Que tal incluir ao menos 30 minutos de caminhada nos seus deslocamentos diários? Convide amigos e explorem a cidade juntos!

Mobilidade e Acessibilidade

O Brasil tem cerca de 18,9 milhões de pessoas com deficiência (IBGE, 2022). A acessibilidade universal é essencial para garantir que essas pessoas, idosos e outras populações vulneráveis se desloquem de forma independente e segura. Contudo, a falta de calçadas e rampas adequadas em muitas cidades brasileiras limita a mobilidade dessas pessoas, comprometendo sua participação social. Apesar de a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) garantir a acessibilidade, apenas 69% das calçadas nos domicílios possuem pavimentação, e apenas 4,7% são acessíveis (IBGE, 2010).

A acessibilidade beneficia não só pessoas com deficiência, mas também idosos, mães com carrinhos de bebê e outros. A falta de calçadas adequadas força muitos pedestres a utilizarem a rua ou ciclovias, o que aumenta os riscos. O Plano de Monitoramento de Viagens em Bicicleta para São Paulo (2023) demonstra que quando temos infraestrutura cicloviária a presença de mulheres aumenta em 8,5% e reduz o uso de calçadas em 4,1%. Sem ciclovias, a presença feminina cai 4,8% e o uso de calçadas sobe para 33,9% (Ciclocidade, 2023). Cidadãos utilizam a infraestrutura onde se sentem mais seguros, mesmo com riscos adicionais. Priorizar a mobilidade ativa torna as cidades mais acessíveis e inclusivas.

Mobilidade e Infância

Uma cidade para crianças é uma cidade boa para todas as pessoas!

A criança tem direito a uma cidade segura, instigante, que ofereça oportunidades de um desenvolvimento espacial e social, acolhedor e edificante. Incentivar a mobilidade ativa em crianças e adolescentes promove a prática regular de atividade física, melhora a concentração, fortalece a relação com o espaço público, desenvolvendo noções de cidadania, e contribui para a preservação do meio ambiente ao reduzir a emissão de poluentes. Esses benefícios ajudam no desenvolvimento físico, cognitivo, social e ambiental de crianças e jovens.

Mobilidade e Cultura

Quando as pessoas caminham ou pedalam, elas não só melhoram sua saúde e reduzem seu impacto ambiental, mas também vivenciam e fortalecem a cultura local, tornando a cidade um lugar mais vibrante e inclusivo. Atividades culturais incentivam a mobilidade ativa, promovendo maior interação com o ambiente urbano, contato com o patrimônio e fortalecendo o sentido de pertencimento e identidade cultural. Uma infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas facilita o acesso à cultura, promovendo a igualdade social e a sustentabilidade urbana. Investir em mobilidade ativa é, portanto, uma estratégia crucial para garantir que todos os cidadãos possam participar plenamente da vida cultural de suas comunidades, promovendo cidades mais justas e sustentáveis.

Mobilidade e Sustentabilidade

Caminhar é uma das formas mais sustentáveis de transporte, pois reduz significativamente a emissão de gases de efeito estufa e poluentes locais.  A promoção da mobilidade ativa está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 11, que busca tornar as cidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. O setor de transportes é responsável por 44% das emissões de CO2 nas cidades brasileiras (ANÁLISE, 2023). Priorizar a mobilidade ativa e o transporte público pode reduzir significativamente essas emissões. A meta 11.2 do ODS 11 visa garantir acesso a sistemas de transporte seguros e sustentáveis para todos até 2030, reforçando a importância de investir em alternativas que promovam a mobilidade ativa e reduzam o impacto ambiental.

Mobilidade e Pessoa Idosa (60+)

Cidades caminháveis são particularmente importantes para pessoas idosas, com deficiência e/ou mobilidade reduzida, garantindo-lhes acesso seguro à cidade, autonomia para ir e vir, boa saúde, física e psicológica, e plena participação na sociedade. Com o envelhecimento da população brasileira, a mobilidade ativa torna-se ainda mais relevante. Segundo o IBGE (2018), em 2060, um em cada quatro brasileiros terá mais de 65 anos. A Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) garante a priorização do atendimento ao idoso por sua família e pelo serviço público, incluindo a adequação dos espaços públicos para a mobilidade segura dessa população.

Mobilidade a Pé e Conexão com Transporte Público Coletivo

Integrar a caminhada com o uso de transporte público é fundamental para a redução do uso de automóveis, especialmente em trajetos curtos. Cidades bem planejadas oferecem infraestrutura que conecta pedestres a pontos de transporte público de maneira eficiente e segura. Outro importante benefício da mobilidade ativa associada ao transporte público coletivo é o incentivo à prática de atividades físicas. Pessoas que utilizam o transporte público, a bicicleta ou a caminhada como principal meio de locomoção fazem mais exercícios físicos do que os usuários de transporte individual motorizado, o que contribui para uma rotina mais ativa e, consequentemente, para a saúde individual, podendo salvar vidas que são perdidas devido à inatividade física (IUTP, 2016). Os usuários do transporte coletivo também são pedestres, já que toda viagem começa e termina a pé. Por isso, garantir rotas caminháveis aos pontos ou estações de transporte público coletivo é fundamental para promover o acesso equitativo. Assim como os ciclistas também devem ter seu acesso garantido ao transporte público coletivo. Portanto, integrar mobilidade a pé, ciclomobilidade e transporte coletivo é o caminho para inverter a lógica existente. A integração entre mobilidade a pé e transporte público é essencial para cidades sustentáveis.

Marina Kohler Harkot

Uma cidade boa para pedestres e ciclistas, é boa para todas as pessoas! 

Já era quase meia noite de 7 de novembro de 2020, quando Marina se despediu das amigas, pegou sua bicicleta e foi embora – mas não chegou em casa. Sua vida foi tragicamente interrompida na Av. Paulo VI, em São Paulo, por um motorista embriagado que fugiu sem prestar socorro. 

A bicicleta era uma paixão, um meio de transporte e uma causa para Marina. Socióloga, doutoranda e pesquisadora, ela atuava em espaços de ativismo e articulações pelo direito à cidade.

A sociedade civil precisa se mobilizar em torno do tema, para fazer com que o Poder Judiciário atue firmemente sobre este e outros crimes de trânsito. Saiba mais do movimento “pedale como Marina” em  https://pedalecomomarina.org/

Chamado

O Dia Mundial Sem Carro nos convida a refletir sobre como estamos ocupando as nossas cidades e qual é o impacto da cultura do automóvel em nossas vidas. É um chamado para repensar as escolhas que fazemos no dia a dia e pressionar o poder público por políticas e soluções que favoreçam a mobilidade sustentável, inclusiva e segura. O Instituto Corrida Amiga, desde 2014, busca aproximar e conectar as pessoas ao espaço em que vivem, com atividades de sensibilização lúdico-educacionais, desenvolvimento de projetos, pesquisas e manuais voltados às crianças, jovens, adultos, idosos e pessoas com deficiência e que já beneficiou mais de 26 mil pessoas na região metropolitana de São Paulo. Para isso, contamos com um programa de voluntariado que atua em atividades presenciais e online!

 

Fontes:

Banach, Maciej et al. The association between daily step count and all-cause and cardiovascular mortality: a meta-analysis, European Journal of Preventive Cardiology, Volume 30, 18, dez. 2023, Páginas 1975–1985, https://doi.org/10.1093/eurjpc/zwad229.

CICLOCIDADE, Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo. Plano de monitoramento de viagens em bicicleta para a cidade de São Paulo. São Paulo: Ciclocidade, 2023.

IUTP. Policy Brief: Desvendando os benefícios da mobilidade para a saúde. São Paulo, IUTP, 2016.

Miner, P., et al. Car harm: A global review of automobility’s harm to people and the environment. Journal of Transport Geography, v.115, February, 2024.

Pereira, G. Posse de veículos por raça no Brasil. Journal of Sustainable Urban Mobility, 1(1-2), 2021.

Pereira, G.; de Trói, M. Viver sem os carros é possível? LinkedIn, 2022. (Multiplicidade Mobilidade Urbana)

ANÁLISE das emissões de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas climáticas do Brasil 1970-2022, SEEG, 2023. Disponível em: https://seeg.eco.br/wp-content/uploads/2024/02/SEEG11-RELATORIO-ANALITICO.pdf

 

 

 

Pensando a educação sobre o Holocausto no século XXI

Por Carlos Reiss*

Qualquer iniciativa de transmissão que envolva o genocídio cometido pelos nazistas e seus colaboradores, ocorrido tanto no prelúdio quanto no âmbito da Segunda Guerra Mundial, precisa partir, invariavelmente, de duas premissas. A primeira delas é um pressuposto humanista transformado em lema pela Ciência e que passou a ser conhecido como Pedagogia do Holocausto.

Da frase de abertura de uma palestra realizada em 1965 pelo filósofo alemão Theodor Adorno emergiu a famosa máxima em tom imperativo de que “a exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação”. Seu argumento de que seria estéril qualquer iniciativa no campo educacional que não fosse realizada com as atenções voltadas aos reflexos da barbárie nazista faz parte de uma concepção além de seu tempo: em primeiro lugar, de que a educação precisa voltar-se ao fundamento aristotélico de que o homem é um ser social; em segundo, pelo anseio por uma educação construída essencialmente para a ação.

Com esta frase aparentemente descomplicada, Adorno ressalta que a educação seria a única razão objetiva que resta à humanidade: mais do que evitar que a tragédia se repita de outras formas, para construir um presente e um futuro pautados pela tolerância e pela pluralidade, centrados no zelo absoluto aos direitos humanos.

De Adorno passamos a Bauman, autor da segunda premissa. Ao impressionar-se com o volume de evidências reunidas pelos historiadores, o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman afirmou que “o Holocausto era uma janela, e não uma imagem na parede. Olhando através dessa janela, pode-se vislumbrar muitas coisas invisíveis”. Uma das chaves para esta perspectiva é o questionamento sobre tudo que se mantém invisível, despercebido do ponto de vista pedagógico, enquanto não enxergamos os conteúdos e os fatos históricos “do outro lado da “janela”. Ao falar sobre “janela”, refletimos sobre oportunidades (de atravessá-la). Nela, estão as possibilidades, praticamente infinitas, de alcançarmos quaisquer objetivos educativos e atingirmos, enfim, a premissa pautada por Adorno.

Até meados da última década, infelizmente, os pensamentos de Adorno e de Bauman não costumavam ser explorados, em toda a sua magnitude, pela educação brasileira. O Holocausto normalmente figurava no rodapé dos livros da educação básica. Com a polarização e a vulgarização da Shoá por parte de governantes, jornalistas e influenciadores, o tema tomou um caminho oposto. De modo geral, a educação brasileira tem dificuldades em lidar com as lições que o Holocausto pode nos proporcionar. A tragédia ainda era vista como um recorte da História conectado exclusivamente à guerra e desvinculado de nossas mazelas contemporâneas. Faltava dar sentido a estas histórias, descartando seu viés conteudista e massificado.

No campo educacional ligado à Shoá, nenhum exemplo materializa tão bem esses fundamentos de Adorno e de Bauman quanto o fenômeno de “O Diário de Anne Frank”. Mais do que ajudar no processo de construção da memória coletiva universal do Holocausto por meio da personificação das vítimas, elemento incomum até meados dos anos 1970, o relato genuíno e sincero de uma adolescente judia que, mesmo em meio a um contexto extremo, continuou escrevendo de maneira tão apaixonada, funciona como um catalisador para essa educação. E por isso é tão fácil se identificar com Anne Frank.

Por gerações, os jovens que leem o diário (e consomem seus subprodutos literários e audiovisuais) reconhecem sua voz, sua maturidade, seus pensamentos e seus desejos íntimos. Problemas, medos, dúvidas e planos são inerentes a qualquer pessoa – o que torna o texto desse gênero literário um instrumento esplêndido de construção de empatia e desenvolvimento da alteridade a partir de um contexto traumático que envolve o ódio e a intolerância.

No entanto, a existência do diário por si só não significa uma construção automática do conhecimento, mas sobretudo um esforço para que ele atinja crianças e jovens em espaços educativos. Se concordamos que as premissas de Adorno e de Bauman já estão bem fundamentadas e compreendidas (e nem sempre estão), e que possuímos em mãos uma ferramenta literária com potencial extraordinário como o texto de “O Diário de Anne Frank”, cabe aos educadores a complexa tarefa de sistematização e elaboração de perspectivas teóricas e de pontes metodológicas.

Nesse caso, o trabalho árduo de produzir sentido e decodificar o conteúdo, mesmo com os grandes riscos e dilemas pedagógicos envolvidos no processo, possibilita se dedicar com que o historiador alemão Bodo von Borries chama de Burdening History (histórias difíceis, tensas ou pesadas). Sua concepção, transformada em referencial teórico, aponta que “a História só é aprendida de forma eficaz sob três condições dadas: se novas perspectivas podem ser ligadas com as antigas, se ela estiver conectada a emoções – negativas ou positivas – e se é relevante na vida”.

A exposição “Anne Frank: deixem-nos ser”, em cartaz na Unibes Cultural e idealizada pela Associação Inspirar-te, concretiza todos esses esforços educativos de maneira lúcida e coerente. Ela materializa o princípio do “nunca mais” por meio de conexões contemporâneas por meio da arte e de ações diretas. Quando falamos “nunca mais”, estamos nos comprometendo a tornar a memória o que toda memória deve ser: útil. Estamos imbuídos de, sim, manusear a memória do Holocausto e utilizá-la como agente transformador, sem vulgarizá-la – e esse é um dos pressupostos do universalismo da Shoá ligado à educação sobre os direitos humanos. E nada melhor do que o legado de Anne Frank para renovarmos nosso pacto coletivo de que vamos identificar os sinais e lutar contra toda e qualquer forma de ódio, intolerância e discriminação, contra qualquer grupo, principalmente as que estão próximas de nós.

* Carlos Reiss é coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba. Membro do comitê executivo da Rede Latino-Americana para o Ensino da Shoá (LAES), da delegação brasileira da International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA) e da equipe curatorial do Memorial às Vítimas do Holocausto do Rio de Janeiro. Curador-chefe da exposição “Anne Frank: deixem-nos ser” e autor dos livros “Luz sobre o Caos: Educação e Memória do Holocausto” e “Entre as sombras e os sóis: a história de Sala Borowiak”.

Referências:

ADORNO, Theodor W. Educação após Auschwitz. In: Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 119-138.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

BORRIES, Bodo von. Jovens e Consciência histórica. In: Bodo von Borries: organização e tradução de Maria Auxiliadora Schmidt, Marcelo Fronza, Lucas Pydd Nechi. Curitiba: W. A. Editores, 2018.

DIA 28 DE JUNHO, UMA MÃE LÉSBICA CELEBRANDO A LUTA

 

Por Marcela Tiboni

Outro dia um dos meus filhos chorou e me abraçou apertado, enquanto falava apressado em meio ao choro que, no auge dos seus cinco anos, ele não acreditava mais nem em Deuses nem no diabo. Eu acolhi o choro com meus próprios olhos cheios de água, fiquei enlaçada em seus pequenos braços tentando compreender de onde vinha sua decisão e o que simbolizava o seu choro.

Quando ele finalmente se acalmou, ele me explicou, disse que se lembrou de uma conversa que eu tive com ele meses atrás quando conversávamos sobre universo, deuses, mundo. Eu havia dito que algumas pessoas, de algumas crenças achavam que famílias como a nossa não deveriam existir, mas que eu não concordava com aquilo. Ele me disse que o choro daquele dia, meses depois deste nosso papo, era de mágoa, de tristeza, porque ele não achava que nossa família era errada, nem quebrada, mas que então preferia não acreditar nem nos deuses e nem no diabo. Nosso papo foi longo, um diálogo bonito que envolveu crenças, interpretação de palavras, sociedade, pessoas e afeto. Ele parou de chorar e logo foi sentar a mesa para fazer uma dobradura em formato de raposa. Já eu fiquei com este momento em minha cabeça, pensando em quantas camadas aquele papo e aquele choro podiam carregar.

Eu sou uma mulher lésbica, junto a Mel, minha esposa, temos dois filhos – gêmeos. Desde que nossos filhos nasceram as palavras luta e celebração parecem se entrelaçar em nossos pensamentos e ações. Esta conversa com o meu filho me deixa claro o quanto uma criança tão pequena é capaz de absorver sentimentos de enfrentamento, lutas e conquistas que vivencia ao lado de sua família desde o minuto que chegou ao mundo. Por um lado eu fico feliz em ver meus filhos fortes e conscientes de que nossa família é baseada no amor, respeito e afetos. Por outro fico devastada em perceber que outras crianças não carregam o choro lamurioso que meu filho carregou no dia em que conversamos sobre famílias.  Este segue sendo um assunto complexo, para toda a sociedade, são muitas frentes, muitas lutas, muitas vitórias, alguns retrocessos e eu, otimista que sou, vejo um caminho bonito a trilhar no futuro. Mas o dia 28 de junho – Dia Internacional do Orgulho LGBT – ainda é uma celebração da luta.

Tentaram me impedir de amamentar nossos filhos no recinto hospitalar porque a diretora do hospital dizia já haver uma mãe para amamenta-los, afinal eu não tinha engravidado e minha esposa sim. Tive meu nome negado na Certidão de Nascido Vivo (CNV) dos nossos filhos porque no documento só havia espaço para uma mãe. Tive o RG dos nossos filhos negado pela Policia Federal em uma viagem a Argentina, porque o nome das mães no documento deles estava abreviado, afinal, não cabia o nome extenso das duas mães um ao lado da outro. Quase perdi a vaga em uma escola pública em São Paulo porque o sistema provavelmente cruzou dados com a Receita Federal, e para a Receita eu não sou mãe dos nossos filhos. Sim, desde que nossos filhos nasceram já foram muitas lutas para que sistemas, sociedade, pessoas e instituições compreendam que somos duas mães, iguais, sem critérios de importância ou veracidade.

Mas é imprescindível relatar aqui as infinitas vitórias que já vivemos, individuais e coletivas. O mesmo hospital que tentou me impedir de amamentar meus filhos, por ser uma mãe não gestante, hoje incentiva a amamentação das duas mães em todos os casos que o casal deseja vivenciar a amamentação dupla. A mesma CNV que excluiu o meu nome foi modificada e, atualmente, conta com a palavra filiação, permitindo que duas pessoas do mesmo gênero constem no documento. O RG que foi negado pela Polícia Federal vem sendo substituído nacionalmente pela CIN (carteira de identidade nacional) e neste novo documento a palavra que consta é filiação, e novamente permite que diferentes modelos de família caibam no documento de uma criança. A vaga na escola pública saiu, e hoje a escola com 270 crianças trabalha e vivencia a diversidade entre seus profissionais, crianças e famílias. Poderia listar aqui muitos projetos de Lei que contemplam os diferentes formatos de família, ONGs como Mães pela Diversidade, Casa1, Casa Neon Cunha, ABGLT que fazem um trabalho incansável para que pessoas LGBTI+ vivam vidas dignas e felizes.

Quando meus filhos nasceram eu tinha medo, eu era luta, mas dia a dia eu venho sendo envolvida por esperança, por celebração, pelo sentimento de acreditar que as transformações são possíveis e já estão acontecendo. Ser uma mãe lésbica em 2024 é infinitamente mais possível, mais leve e acolhedor do em tempos passados. A sociedade está mais aberta, as leis mais plurais, os direitos mais garantidos. Mas eu queria terminar este texto voltando a falar do papo com o meu filho…

Talvez o que meu filho precise não é saber menos. Não é escutar menos as lutas de suas mães. Não é ser poupado da realidade que em muitos momentos podemos vivenciar. Talvez o que ele precise é de aliados, de outras crianças com quem possa conversar, outras crianças, famílias e pessoas com quem possa mostrar sua composição familiar e receber de volta um sorriso e acolhimento. Talvez o que ele precise é que outras famílias saibam que nossa família existe, que duas mães, dois pais, famílias trans ou não binárias não sejam mais um tabu. Talvez meu filho precise saber que muitas lutas não serão mais necessárias e então ele ficará só com as delícias e sorrisos das celebrações!

Marcela Tiboni é mãe, lésbica, escritora sobre dupla maternidade e criadora de conteúdo sobre parentalidade não heteronormativa. Formada em Artes Visuais pela FAAP e mestre em História da Arte pela USP. Escreveu os livros MAMA: relatos de maternidade homoafetiva (2019), Maternidades no Plural (2021) e DESMAMA: memórias de uma mãe com outra mãe (2022). Trabalha com palestras institucionais sobre sexualidade, gênero, maternidade e parentalidade não heteronormativa.

UConecte-Dia-de-combate-a-violencia-contra-os-idosos-1-2

TODOS VAMOS ENVELHECER

Por Vera Rodrigues da Silva

Eu sou Vera, assistente social com 20 anos de experiência. Atualmente curso pós-graduação em Gerontologia e atuo na Unibes, acolhendo famílias em suas fragilidades, principalmente com seus idosos. 

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que traz consigo uma série de desafios e questões sociais, incluindo a violência contra pessoas idosas. Em 2011, a Assembleia Geral das Nações Unidas designou em reconhecimento à crescente preocupação global com o tema, o dia 15 de junho para conscientização da sociedade e a promoção de ações de prevenção do problema.

O Dia Internacional de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa serve como uma oportunidade para proteger os direitos, promover o respeito e a dignidade em todas as idades.

É importante destacar que a violência contra pessoas idosas é um problema complexo e multifacetado que requer uma abordagem abrangente e coordenada, envolvendo governos, sociedade civil, organizações, profissionais de saúde e assistência social, bem como a própria população em geral. É um problema complexo que muitas vezes está ligado à fragilidade e às vulnerabilidades associadas ao processo de envelhecimento.

Como assistente social, vejo na prática as dificuldades na abordagem do problema. Adoto uma abordagem integrada e centrada no indivíduo, faço um trabalho de fortalecer e buscar a família como suporte. Meu papel na abordagem das vulnerabilidades e violências enfrentadas pelos idosos é essencial. Encaminho, oriento, apoio emocionalmente e proporciono acesso a serviços e recursos da rede, seja ela pública ou privada. Poder contribuir significativamente para o bem-estar geral dos idosos e ajudá-los a desfrutar de uma vida plena e satisfatória é o propósito do trabalho.

A violência pode assumir várias formas, incluindo abuso físico, psicológico, financeiro e negligência. As relações familiares desempenham um papel crucial na proteção e no bem-estar destas pessoas. Quando essas relações estão fragilizadas, seja devido a conflitos internos, distanciamento emocional, falta de suporte, estresse por conta dos desafios do cuidado, este idoso pode ficar ainda mais vulnerável. As mudanças nas estruturas familiares, como o aumento de famílias multigeracionais ou a migração de filhos em busca de oportunidades de trabalho, podem afetar as relações familiares e o apoio aos idosos, aumentando o risco de abuso, negligência e institucionalização.

Quando a sociedade perpetua estereótipos negativos sobre o envelhecimento, isso pode criar um ambiente propício para o tratamento desrespeitoso e até abusivo em relação à pessoa idosa, contribuindo com a negligência ou exploração dessas pessoas. O idadismo, que é o preconceito ou discriminação contra pessoas com base na idade, é um componente importante a ser considerado ao abordar a violência contra pessoas idosas. Neste estereótipo distorcido, negam-se oportunidades e dignidade às pessoas por causa de sua idade e ainda contribui para sua exclusão social e marginalização. É importante promover a consciência sobre os preconceitos baseados na idade, valorizar a diversidade de experiências e perspectivas e garantir igualdade de oportunidades e tratamento justo para pessoas de todas as idades.

Para lidar com essas questões, é crucial implementar políticas e programas que promovam os direitos e o bem-estar das pessoas idosas, combatam o idadismo, fortaleçam os sistemas de cuidados e proteção social e criem redes de apoio comunitário para prevenir e responder à violência contra elas.

Conquistar esperança e reduzir a violência é um processo multifacetado que requer esforços coordenados em várias frentes. Pensando neste contexto, podemos capacitar profissionais de saúde, assistência social, segurança pública e outros que trabalham com idosos, para garantir uma resposta eficaz à violência. Incluindo treinamento para reconhecer sinais de abuso, como lidar com casos de violência e como apoiar as vítimas de maneira sensível e eficaz. Isso pode ser feito por meio de campanhas de educação pública, palestras e materiais educacionais que abordem o tema da violência contra esta população.

Desafiar estereótipos negativos sobre o envelhecimento, promover relações familiares saudáveis e fortalecer o senso de comunidade e solidariedade entre pessoas de todas as idades, promovendo uma cultura de respeito e cuidado é essencial para esta conquista. Iniciativas de vizinhança solidária, grupos de apoio, voluntariado e parcerias entre organizações da sociedade civil e autoridades locais, ou seja, fortalecer e criar redes de apoio a este grupo pode ajudar a protegê-lo de situações de risco, principalmente em territórios afastados. Implementar e fazer cumprir leis e políticas que protejam os direitos das pessoas idosas e combatam a violência é fundamental, além de medidas que promovam a participação ativa destes na sociedade. Incluindo linhas diretas de apoio, centros de atendimento a vítimas, serviços de aconselhamento e programas de intervenção precoce para identificar e interromper o ciclo de violência.

Ao adotar uma abordagem abrangente que combina educação, intervenção, suporte, políticas e mudanças culturais, podemos trabalhar juntos para conquistar esperança e reduzir a violência contra pessoas idosas.

ODS ZERO x IA

O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é observado em 27 de janeiro. Essa data marca a libertação do campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau pelas forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. Todos os anos ele é lembrado com a mensagem clara que devemos dar ao mundo: nunca mais!

UConecte---Dia-Internacional-da-Felicidade

Você sabia que existe o Dia da Felicidade?

 Por Chirles Oliveira

Se a felicidade é a busca primeira do ser humano, por que há tanta infelicidade no mundo? Já parou para pensar o porquê das pessoas estarem tão infelizes e adoecidas? Quais seriam as possíveis causas de tanto sofrimento psíquico? Não são as respostas que importam agora, mas nossa capacidade de questionar a nós mesmos e de desenvolver um pensamento crítico sobre como estamos vivendo nossa jornada, sobre quem somos verdadeiramente e o que viemos fazer no mundo: sofrer, sobreviver ou florescer sendo feliz?

Para trazer à tona o tema do bem-estar e felicidade e fomentar reflexões e discussões em todo o mundo, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu em 2012 o Dia Internacional da Felicidade, reconhecendo a felicidade como um objetivo humano fundamental, pela resolução 66/281. Em 2013, o mundo celebrava pela primeira vez a data, lançando luz sobre o tema e mobilizando países e instituições para a importância da promoção do debate sobre o que é e como atingir essa tal felicidade.

Não há respostas fáceis, nem fórmula mágica para se experienciar a felicidade genuína. O que sabemos e podemos afirmar é que não estamos falando da felicidade vendida pela publicidade e arquitetada pela cultura do consumo. E talvez, possamos considerar que essa busca pautada no externo e no materialismo, que nos impõe padrões estereotipados de felicidade, possa ser um dos motivos de tanto sofrimento vindo de um vazio existencial. Como afirmou Jiddu Krishnamurti “não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”.

Então, para onde esse caminho aponta e no qual devo dedicar minha energia e atenção? Nunca é para fora, para a busca da felicidade nas conquistas materiais, na fama, no poder, nos excessos. Essa roda que gira há séculos nessa direção já se mostrou ineficaz para a felicidade humana.

O verbo para a Felicidade não é buscar. Acredito que passeie pelos verbos: encontrar, relembrar quem somos, estar presente para simplesmente SER. Afinal, a potência humana é algo intrínseco, um aspecto interno da qualidade da vida, como uma semente de carvalho que traz em si a potência do grande carvalho.

Respire fundo e reflita: como você está se sentindo nesse momento? Quais padrões você está seguindo e que estão te causando algum tipo de angústia? Em qual direção você está caminhando? Será que sente que precisa mudar a rota e ressignificar o que compreende sobre essa tal felicidade? Quais movimentos a vida está pedindo para você fazer para sair das amarras do sofrimento?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman já mencionava em seu livro Vida para Consumo que para atender novas necessidades, impulsos, compulsões e vícios a economia consumista apostava na troca da vida pelo tempo e/ou dinheiro, no excesso e no desperdício. Assim, foi se construindo a sociedade do cansaço, do excesso de informação e das coisas, fomentando uma sociedade buscadora de felicidade, mas infelizmente, adoecida pelo ritmo frenético do fazer e ter que alimenta um looping de exaustão.

Para o psiquiatra Ron Leifer, autor dos livros Projeto Felicidade e Transformando Vinagre em Mel, “nossos projetos de felicidade são falhos porque nossos desejos e receios são intermináveis e conflitantes. Todos têm seu ‘projeto de felicidade’, que os leva a buscar o que acham que os fará felizes no futuro e a evitar o que acham que os fará infelizes”. Dessa forma, vive-se mais o conflito do que a própria felicidade, e assim, o ser humano vai se perdendo nos emaranhados dos desejos ao ponto de almejar o impossível: uma vida idealizada na felicidade e na perfeição. Não existe vida perfeita e também não existe felicidade permanente.

Portanto, caro leitor, é preciso tecer um olhar investigativo para seu “projeto de felicidade” e compreender se ele está sendo a causa raiz para alguns sintomas como estresse, ansiedade crônica, depressão, e se ele fomenta um jeito de atuar que pode desencadear a síndrome de burnout. Que tal olhar a vida e a felicidade sob outra perspectiva?

Existem saberes que apontam na direção oposta a esse adoecimento pelo excesso que leva à exaustão. Há saberes que nos convidam a pensar a felicidade como a expressão da nossa potência, da conexão com nossa essência, num mergulho profundo no autoconhecimento, resgatando a célebre afirmação socrática: “conhece-te a ti mesmo” para expressão genuína de uma vida significativa, uma vida boa que vale a pena ser vivida.

Podemos contar com inúmeros saberes ancestrais vindos de tradições milenares, dos povos originários, da espiritualidade, da filosofia, da psicologia que apontam para um viver mais integrado entre o pensar, o sentir e o agir. Um desses saberes vem da ciência, da Psicologia Positiva – a Ciência da Felicidade.

 

Uma Ciência que estuda a Felicidade ou Florescimento Humano

Ela é recente, tem aproximadamente 26 anos, e é denominada Psicologia Positiva, fundada nos Estados Unidos pela dupla de psicólogos Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi. Ao criar esse braço da Psicologia, os renomados psicólogos tinham por objetivo promover a potência do indivíduo e sair do foco das doenças da psique humana. Segundo Martin Seligman, “a Psicologia não é apenas o estudo da fraqueza e do dano, mas também o estudo das forças e das virtudes humanas. Tratar não significa apenas consertar o que está com defeito, mas também cultivar o que temos de melhor”.

Assim, a Ciência da Felicidade nasce para fomentar a potência do ser humano, resgatando o poder das escolhas intencionais para promoção de uma vida com mais bem-estar físico, mental, emocional, relacional, espiritual. Faz sentido para você que se as pessoas não sabem quem são e do que são capazes, como se pode esperar que tenham um bom desempenho e satisfação no trabalho ou na vida?

A Psicologia Positiva não desenhou um conceito de felicidade, mas um constructo que afirma que “felicidade é uma experiência de contentamento e bem-estar combinado à sensação de que a vida tem sentido e vale a pena”. Esse embasamento vem da concepção aristotélica e traz uma consciência de que a felicidade é uma atividade e é socialmente construída, orientada tanto por experiências hedônicas que promovem prazer e satisfação (mais fulgaz), quanto por experiências eudaimônicas baseadas nos valores, forças de caráter e propósito de vida (mais duradoura).

Esse constructo nos convida a olhar a felicidade sob a perspectiva de uma atividade, de uma habilidade que pode ser aprendida e colocada em prática no dia a dia, colocando assim o ser humano como protagonista da sua jornada, capaz de escolher com intenção onde e como colocar sua energia e ação para o cultivo do seu bem-estar integral. E não se engane achando que esse indivíduo precisa de coisas extraordinárias para viver o bem-estar, pelo contrário, é na apreciação das coisas simples da vida, mas que verdadeiramente importam para ele, que se experimentará contentamento, alegria, esperança, gratidão e serenidade.

No constructo de felicidade, há a compreensão da dimensão social da felicidade. “O propósito é o caminho para felicidade duradoura”, afirmou Martin Seligman, pai da Psicologia Positiva. Quem se conecta com seu propósito e faz essa entrega dos seus talentos para o mundo, toca a felicidade genuína e sente o sentimento de satisfação, realização e estado de flow (engajamento).

E sou um exemplo vivo de que a teoria da Ciência da Felicidade realmente funciona, pois eu pude sentir na prática essas fases do sentir felicidade, quando em 2019 eu idealizei e realizei o evento Dia Internacional da Felicidade, 100% gratuito e colaborativo, em parceria com a Unibes Cultural. Com uma programação que contou com nossa madrinha Monja Coen e outras especialistas em bem-estar, mindfulness e Ciência da Felicidade, entregamos para mais de 500 pessoas uma experiência de bem-estar e felicidade. Foi um evento lindo, potente, memorável.

A semente plantada no primeiro evento continuou sendo regada, cuidada e foi crescendo e dando bons frutos. Nos anos seguintes 2020, 2021, 2022, em razão da pandemia, realizamos o Dia Internacional da Felicidade de forma totalmente online com mais de 5 horas de duração, sempre contando com especialistas renomados e influenciadores que vivenciam seu propósito e acreditaram na nossa causa que é democratizar os saberes e práticas sobre um estilo de vida mais feliz e sustentável. Você pode acessar esses conteúdos no canal do YouTube Felicidade Sustentável.

Em 2023, o evento Dia Internacional da Felicidade se transformou na Virada da Felicidade, e entregamos uma programação incrível em sete dias (de 20 a 26 de março), em sete espaços diferentes e ainda com quatro painéis online, honrando nossa audiência de fora de São Paulo, já que vínhamos de eventos online nos anos anteriores. O objetivo é realmente democratizar informação e saberes, por isso o evento é 100% gratuito, além de proporcionar o aprendizado pela vivência de práticas terapêuticas e culturais com pockets shows e facilitação poética. Não existe uma fórmula mágica para felicidade, por isso nossa curadoria busca reunir múltiplos saberes e olhares sobre esse grande tema, com especialistas de diferentes áreas.

Não há respostas fáceis nem caminhos curtos para viver uma vida equilibrada, a tal felicidade sustentável. Há caminhos possíveis, porém eles não são curtos, não há atalhos e ninguém fará isso por você. Só você pode fazer essa caminhada… mas não precisa fazê-la sozinha e sem preparo… atravesse o deserto munido das ferramentas necessárias para essa travessia. Assim, você saberá apreciar o oásis da sua alma e vivenciar esse potencial na sua vida cotidiana. A liberdade está em conhecer as causas do sofrimento e se libertar dele. Quanto mais você pratica a presença do Ser, mais você se transforma. Não tenha pressa, continue caminhando…

 

Chirles Oliveira é jornalista de formação, mestre em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPM/SP, pós-graduada em Psicologia Positiva e professora universitária na Católica de Santa Catarina, nos cursos de Pós-Graduação em Metodologias em Desenvolvimento Humano e Saúde Mental e Emocional nas Organizações.
Conheça mais em: https://felicidadesustentavel.com.br/

Nunca Mais

O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é observado em 27 de janeiro. Essa data marca a libertação do campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau pelas forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. Todos os anos ele é lembrado com a mensagem clara que devemos dar ao mundo: nunca mais!

1º de Outubro – Dia das Pessoas Idosas

O direito à moradia digna faz parte dos direitos sociais do cidadão, consolidados na Constituição Federal de 1988. Mas para além de ter um teto, é preciso ter qualidade de vida. No caso das pessoas idosas, é preciso ter acesso e garantia a uma rede de cuidados que passam por serviços públicos e a inclusão social. A abordagem do Cuidado Centrado na Pessoa Idosa (Icope) da OMS (2017) é guiada por quatro princípios. Leia o artigo completo para saber quais.