Mais do que um negócio, um propósito!
De shareholders para stakeholders. De acionistas, para o interesse de todos!
Por Gaia Maria
O caso da Southwest Airlines, talvez a companhia aérea mais bem-sucedida de todos os tempos. O sedutor propósito da empresa, desde o primeiro dia, foi democratizar os céus, isto é, tornar o transporte aéreo acessível para o público médio. Quando a Southwest surgiu, no ínicio de 1970, apenas 15% dos norte- americanos tinham viajado de avião; hoje, mais de 85% já voaram, em grande parte graças aos esforços pioneiros da Southwest para baixar tarifas e levar o serviço aéreo à mercados menores, comercializando-o de maneira divertida. A empresa tem sido consistentemente rentável, e os membros da equipe adoram seus empregos. A Southwest se baseia em se divertir e irradiar amor: não por acaso, a sigla da companhia na bolsa de valores é LUV (cuja pronúncia em inglês é igual à de “Love”) Trecho do livro: “Capitalismo Consciente”
CAPITALISMO
Antes de mergulharmos no capitalismo consciente é válido lembrar que esse sistema contribuiu para a melhoria na qualidade de vida e padrões mais altos em muitos países desenvolvidos. Resultando em maior acesso a bens e serviços. Por outro lado, gerou significativa disparidade entre diferentes grupos sociais e econômicos.
Um sistema onde o lucro ignora o equilíbrio entre desenvolvimento humano e de todo o planeta. Que explora as riquezas da terra sem considerar a preservação e sua conservação para a criação de uma vida sustentável, passando por cima de tudo e de todos, em busca da preservação de um estilo de vida onde prevalece o TER.
Percebendo as consequências que levaram viver neste sistema de consumo desenfreado, uma coisa é certa, precisamos mudar e entender o maior equívoco do capitalismo, o de olhar somente para o interesse de uma minoria, que visa somente os interesses dos shareholders, desconsiderando os interesses de todo resto. Quando, na verdade, ao invés de olharmos para o interesse de uma parte, devemos olhar para todo o ecossistema. Criando uma situação onde todas as partes envolvidas se sintam valorizadas e obtenham inclusão e vantagens, criando assim um cenário de cooperação e harmonia.
Assim, o trabalho que antes era feito por obrigação passa a ser feito por inspiração, impactando diretamente no resultado das entregas.
CAPITALISMO CONSCIENTE
APENAS UM CONCEITO OU UM COMPROMISSO COM O FUTURO?
Pensando neste modelo de negócios, trago aqui um case nacional que me enche de inspiração, como um exemplo de como é possível desenvolver projetos com impacto social e, ao mesmo tempo, obter lucro, pois é ele que permite que a empresa tenha uma vida longa e saudável.
A marca Dengo nasce como um negócio de impacto social que busca mudar a realidade de uma cadeia cacaueira no Brasil. A marca trabalha utilizando o mecanismo de valor compartilhado, onde o produtor ganha mais pelo cacau de qualidade, contribuindo com a melhoria da renda média das famílias em 33% do acumulado dos últimos anos, mesmo no período pandêmico.
A marca pagou para o produtor, em média 91% a mais que o preço de mercado, beneficiando uma média de 200 famílias, sendo 145 ativas, sem impactar no custo final do produto para o consumidor.
Percebe que tudo começa pelo cuidado com o produtor?
A qualidade do seu produto se eleva, cuida do meio ambiente e dos seus clientes. Ao mesmo tempo, resgata a dignidade daquela população, além do orgulho de viver do amor ao seu trabalho, gerando novas perspectivas para as próximas gerações.
Isso demonstra o quanto é possível estabelecer um negócio sustentável, onde todos ganham, inclusive o consumidor, quando a marca demonstra na prática, que existe um compromisso na redução da concentração de açúcar, e também exclusão de gordura hidrogenada, resultando em um chocolate saboroso e ao mesmo tempo, saudável. Para quem consome e para quem produz.
O PROPÓSITO É A CHAVE PARA SOBREVIVER O SÉCULO XXI
No caso da Dengo, o propósito está na geração de renda para toda a cadeia produtiva do cacau, uma cultura com relevância absoluta para a empresa. Olhar para a Dengo nos faz sentir que o compromisso social e ambiental da marca está na espinha dorsal, na alma do seu negócio. O lucro é necessário, mas não é o principal.
UMA CULTURA CONSCIENTE CONTRIBUI PARA A REPUTAÇÃO DA EMPRESA, ATRAINDO MELHORES TALENTOS DO MERCADO, AUMENTANDO A FIDELIDADE DOS CLIENTES E DE QUEBRA, IMPACTANDO POSITIVAMENTE O MEIO AMBIENTE E A SOCIEDADE.
Agora, para que isso aconteça, precisa ter um envolvimento de todos, não só dos clientes, fornecedores, colaboradores, mas principalmente dos CEOs e de toda liderança. Para que a empresa tenha mudanças de fato, ela precisa atingir com transversalidade toda a organização. Dos valores éticos às ações que
inspiram todos a adotarem iniciativas alinhadas com a agenda 2030, levando inovação e práticas empresariais conscientes.
SE CADA UM FIZER A SUA PARTE, SE MANTIVER CONSCIENTE DENTRO DO SEU ESPAÇO E AJUDAR AQUELE QUE ESTÁ AO SEU LADO, TEREMOS UM RESULTADO QUE VAI IMPACTAR POSITIVAMENTE A VIDA DE TODOS, EM TODO PLANETA.
É possível, atualmente, encontrar diversas marcas que olham para o seu negócio como protagonista para garantir um futuro melhor. Um exemplo é a marca Osklen que usa materiais sustentáveis na fabricação de seus produtos desde 2001, utilizando materiais de origem orgânica, reciclada, natural e artesanal desenvolvidos por comunidades, cooperativas ou por grupos industriais, e que além do cuidado com o meio ambiente, gera renda para uma população antes “invisível”.
Um outro case, a Danone, que criou em 2006 uma joint-venture chamada “Grameen Danone Foods”, um negócio social entre o grupo Grameen e a multinacional francesa, em questão, Danone. Com o propósito principal de combater o problema generalizado da desnutrição das crianças da área rural de Bangladesh. A marca elaborou um iogurte com os micronutrientes necessários para combater a desnutrição das crianças daquela região e o projeto deu tão certo que – ingerindo duas vezes por semana ao longo de um ano – a criança sai da desnutrição, já que o preço acessível da fórmula permite o seu consumo para uma população infantil considerada com alta vulnerabilidade alimentar. E tudo isso, gerando emprego e dignidade para o meio como um todo.
É POSSÍVEL SEGUIR EXEMPLOS COMO OS CITADOS PARA IMPACTAR DE FORMA SUSTENTÁVEL TODO O ECOSSISTEMA, PRINCIPALMENTE O PLANETA TERRA.
Quando falamos de mudanças estruturais e citamos que esse olhar precisa ser sistêmico, e que toda organização, principalmente os CEOs e líderes, precisam passar por uma mudança de mind-set, estamos falando de mudança de valores, de paradigmas. Estamos afirmando que precisa acontecer uma conscientização de dentro pra fora.
Precisamos evoluir na mesma velocidade que a tecnologia que geramos e quando falamos em evoluir, queremos dizer: evoluir sobre o fator humano, porque todo o resto será feito com eficiência pela tecnologia e inteligência artificial.
Fontes:
Livro: Capitalismo consciente (Raj Sisodia e John Mackey) parquedasaves.com.br
infoescola.com www.osklen.com.br edisciplinas.usp.br Entrevista Estevan Sartoreli – Negócios de Impacto