Se a felicidade é a busca primeira do ser humano, por que há tanta infelicidade no mundo? Já parou para pensar o porquê das pessoas estarem tão infelizes e adoecidas? Quais seriam as possíveis causas de tanto sofrimento psíquico? Não são as respostas que importam agora, mas nossa capacidade de questionar a nós mesmos e de desenvolver um pensamento crítico sobre como estamos vivendo nossa jornada, sobre quem somos verdadeiramente e o que viemos fazer no mundo: sofrer, sobreviver ou florescer sendo feliz?

Para trazer à tona o tema do bem-estar e felicidade e fomentar reflexões e discussões em todo o mundo, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu em 2012 o Dia Internacional da Felicidade, reconhecendo a felicidade como um objetivo humano fundamental, pela resolução 66/281. Em 2013, o mundo celebrava pela primeira vez a data, lançando luz sobre o tema e mobilizando países e instituições para a importância da promoção do debate sobre o que é e como atingir essa tal felicidade.

Não há respostas fáceis, nem fórmula mágica para se experienciar a felicidade genuína. O que sabemos e podemos afirmar é que não estamos falando da felicidade vendida pela publicidade e arquitetada pela cultura do consumo. E talvez, possamos considerar que essa busca pautada no externo e no materialismo, que nos impõe padrões estereotipados de felicidade, possa ser um dos motivos de tanto sofrimento vindo de um vazio existencial. Como afirmou Jiddu Krishnamurti “não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”.

Então, para onde esse caminho aponta e no qual devo dedicar minha energia e atenção? Nunca é para fora, para a busca da felicidade nas conquistas materiais, na fama, no poder, nos excessos. Essa roda que gira há séculos nessa direção já se mostrou ineficaz para a felicidade humana.

O verbo para a Felicidade não é buscar. Acredito que passeie pelos verbos: encontrar, relembrar quem somos, estar presente para simplesmente SER. Afinal, a potência humana é algo intrínseco, um aspecto interno da qualidade da vida, como uma semente de carvalho que traz em si a potência do grande carvalho.

Respire fundo e reflita: como você está se sentindo nesse momento? Quais padrões você está seguindo e que estão te causando algum tipo de angústia? Em qual direção você está caminhando? Será que sente que precisa mudar a rota e ressignificar o que compreende sobre essa tal felicidade? Quais movimentos a vida está pedindo para você fazer para sair das amarras do sofrimento?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman já mencionava em seu livro Vida para Consumo que para atender novas necessidades, impulsos, compulsões e vícios a economia consumista apostava na troca da vida pelo tempo e/ou dinheiro, no excesso e no desperdício. Assim, foi se construindo a sociedade do cansaço, do excesso de informação e das coisas, fomentando uma sociedade buscadora de felicidade, mas infelizmente, adoecida pelo ritmo frenético do fazer e ter que alimenta um looping de exaustão.

Para o psiquiatra Ron Leifer, autor dos livros Projeto Felicidade e Transformando Vinagre em Mel, “nossos projetos de felicidade são falhos porque nossos desejos e receios são intermináveis e conflitantes. Todos têm seu ‘projeto de felicidade’, que os leva a buscar o que acham que os fará felizes no futuro e a evitar o que acham que os fará infelizes”. Dessa forma, vive-se mais o conflito do que a própria felicidade, e assim, o ser humano vai se perdendo nos emaranhados dos desejos ao ponto de almejar o impossível: uma vida idealizada na felicidade e na perfeição. Não existe vida perfeita e também não existe felicidade permanente.

Portanto, caro leitor, é preciso tecer um olhar investigativo para seu “projeto de felicidade” e compreender se ele está sendo a causa raiz para alguns sintomas como estresse, ansiedade crônica, depressão, e se ele fomenta um jeito de atuar que pode desencadear a síndrome de burnout. Que tal olhar a vida e a felicidade sob outra perspectiva?

Existem saberes que apontam na direção oposta a esse adoecimento pelo excesso que leva à exaustão. Há saberes que nos convidam a pensar a felicidade como a expressão da nossa potência, da conexão com nossa essência, num mergulho profundo no autoconhecimento, resgatando a célebre afirmação socrática: “conhece-te a ti mesmo” para expressão genuína de uma vida significativa, uma vida boa que vale a pena ser vivida.

Podemos contar com inúmeros saberes ancestrais vindos de tradições milenares, dos povos originários, da espiritualidade, da filosofia, da psicologia que apontam para um viver mais integrado entre o pensar, o sentir e o agir. Um desses saberes vem da ciência, da Psicologia Positiva – a Ciência da Felicidade.

 

Uma Ciência que estuda a Felicidade ou Florescimento Humano

Ela é recente, tem aproximadamente 26 anos, e é denominada Psicologia Positiva, fundada nos Estados Unidos pela dupla de psicólogos Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi. Ao criar esse braço da Psicologia, os renomados psicólogos tinham por objetivo promover a potência do indivíduo e sair do foco das doenças da psique humana. Segundo Martin Seligman, “a Psicologia não é apenas o estudo da fraqueza e do dano, mas também o estudo das forças e das virtudes humanas. Tratar não significa apenas consertar o que está com defeito, mas também cultivar o que temos de melhor”.

Assim, a Ciência da Felicidade nasce para fomentar a potência do ser humano, resgatando o poder das escolhas intencionais para promoção de uma vida com mais bem-estar físico, mental, emocional, relacional, espiritual. Faz sentido para você que se as pessoas não sabem quem são e do que são capazes, como se pode esperar que tenham um bom desempenho e satisfação no trabalho ou na vida?

A Psicologia Positiva não desenhou um conceito de felicidade, mas um constructo que afirma que “felicidade é uma experiência de contentamento e bem-estar combinado à sensação de que a vida tem sentido e vale a pena”. Esse embasamento vem da concepção aristotélica e traz uma consciência de que a felicidade é uma atividade e é socialmente construída, orientada tanto por experiências hedônicas que promovem prazer e satisfação (mais fulgaz), quanto por experiências eudaimônicas baseadas nos valores, forças de caráter e propósito de vida (mais duradoura).

Esse constructo nos convida a olhar a felicidade sob a perspectiva de uma atividade, de uma habilidade que pode ser aprendida e colocada em prática no dia a dia, colocando assim o ser humano como protagonista da sua jornada, capaz de escolher com intenção onde e como colocar sua energia e ação para o cultivo do seu bem-estar integral. E não se engane achando que esse indivíduo precisa de coisas extraordinárias para viver o bem-estar, pelo contrário, é na apreciação das coisas simples da vida, mas que verdadeiramente importam para ele, que se experimentará contentamento, alegria, esperança, gratidão e serenidade.

No constructo de felicidade, há a compreensão da dimensão social da felicidade. “O propósito é o caminho para felicidade duradoura”, afirmou Martin Seligman, pai da Psicologia Positiva. Quem se conecta com seu propósito e faz essa entrega dos seus talentos para o mundo, toca a felicidade genuína e sente o sentimento de satisfação, realização e estado de flow (engajamento).

E sou um exemplo vivo de que a teoria da Ciência da Felicidade realmente funciona, pois eu pude sentir na prática essas fases do sentir felicidade, quando em 2019 eu idealizei e realizei o evento Dia Internacional da Felicidade, 100% gratuito e colaborativo, em parceria com a Unibes Cultural. Com uma programação que contou com nossa madrinha Monja Coen e outras especialistas em bem-estar, mindfulness e Ciência da Felicidade, entregamos para mais de 500 pessoas uma experiência de bem-estar e felicidade. Foi um evento lindo, potente, memorável.

A semente plantada no primeiro evento continuou sendo regada, cuidada e foi crescendo e dando bons frutos. Nos anos seguintes 2020, 2021, 2022, em razão da pandemia, realizamos o Dia Internacional da Felicidade de forma totalmente online com mais de 5 horas de duração, sempre contando com especialistas renomados e influenciadores que vivenciam seu propósito e acreditaram na nossa causa que é democratizar os saberes e práticas sobre um estilo de vida mais feliz e sustentável. Você pode acessar esses conteúdos no canal do YouTube Felicidade Sustentável.

Em 2023, o evento Dia Internacional da Felicidade se transformou na Virada da Felicidade, e entregamos uma programação incrível em sete dias (de 20 a 26 de março), em sete espaços diferentes e ainda com quatro painéis online, honrando nossa audiência de fora de São Paulo, já que vínhamos de eventos online nos anos anteriores. O objetivo é realmente democratizar informação e saberes, por isso o evento é 100% gratuito, além de proporcionar o aprendizado pela vivência de práticas terapêuticas e culturais com pockets shows e facilitação poética. Não existe uma fórmula mágica para felicidade, por isso nossa curadoria busca reunir múltiplos saberes e olhares sobre esse grande tema, com especialistas de diferentes áreas.

Não há respostas fáceis nem caminhos curtos para viver uma vida equilibrada, a tal felicidade sustentável. Há caminhos possíveis, porém eles não são curtos, não há atalhos e ninguém fará isso por você. Só você pode fazer essa caminhada… mas não precisa fazê-la sozinha e sem preparo… atravesse o deserto munido das ferramentas necessárias para essa travessia. Assim, você saberá apreciar o oásis da sua alma e vivenciar esse potencial na sua vida cotidiana. A liberdade está em conhecer as causas do sofrimento e se libertar dele. Quanto mais você pratica a presença do Ser, mais você se transforma. Não tenha pressa, continue caminhando…

 

Chirles Oliveira é jornalista de formação, mestre em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPM/SP, pós-graduada em Psicologia Positiva e professora universitária na Católica de Santa Catarina, nos cursos de Pós-Graduação em Metodologias em Desenvolvimento Humano e Saúde Mental e Emocional nas Organizações.
Conheça mais em: https://felicidadesustentavel.com.br/

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