Por Yuri Cavichioli

Cientista: uma palavra sem gênero, por muito tempo foi representada no inconsciente como um homem de jaleco branco em um laboratório. Cenário esse que a partir do avanço da sociedade sobre o papel de todos, as mulheres têm caminhado para mudar, ocupando mais espaços de direito.

Apesar desse avanço nas mais variadas áreas do conhecimento, dados mundiais de 2020, apresentados pela UNESCO, apontam que apenas 30% dos cientistas são mulheres. No Brasil, as mulheres pesquisadoras representam 40,3%. Se formos pensar em healthtechs, o número é ainda menor: apenas 4% dessas empresas são compostas por mulheres em seu quadro societário, segundo pesquisa da Inside Healthtech Report.

A mudança começou

Uma proposta bastante básica é conhecer a história por outros olhares. Por anos e anos as referências científicas partem de vozes masculinas e isso contribuiu para que assuntos ligados ao conhecimento fosse atribuídos ao universo dos homens.

Mas a história vai muito além disso e provavelmente você não sabia. No Egito, a faraó Hatexepsute além de servir como prisma para discussões de binaridade de gênero, estava intimamente ligada à ciência organizando expedições para busca de plantas na Grécia e aluna de Pitágora, escrevia livros sobre matemática e física. 

E isso falando num passado muito distante, muitas outras mulheres brilharam na ciência ao longo da história e contribuíram para a evolução da ciência e tecnologia como conhecemos hoje.

Além da educação, fator essencial nessa mudança de pensamento estrutural, outros tipos de comunicação também compõem esse processo. A literatura aparece como uma forte aliada. A escritora estadunidense Margot Lee Shetterly se destacou com em seu primeiro livro, o “Hidden Figures – The American Dream and the Untold Story of the Black Women Mathematicians Who Helped Win the Space Race” (“Figuras Escondidas: O Sonho Americano e a História Não Contada das Mulheres Negras Matemáticas que Ajudaram a Vencer a Corrida Espacial”, em tradução livre), é uma excelente obra para reconhecer mulheres na tecnologia.

A obra ainda rendeu uma adaptação cinematográfica de sucesso: Estrelas Além do Tempo. Um filme que demonstra o auge da corrida espacial travada entre Estados Unidos e Rússia durante a Guerra Fria, uma equipe de cientistas da NASA, formada exclusivamente por mulheres afro-americanas, liderando uma das maiores operações tecnológicas registradas na história americana e se tornando verdadeiras heroínas da nação. O filme rendeu três indicações ao Oscar, uma no BAFTA e venceu o prêmio SAG Awards, de melhor elenco.

“A gente está conseguindo entender que é possível entrar nessas diversas áreas que, ainda, são muito dominadas por homens”, aponta Kamila, ex-aluna do projeto.

O que vem por aí

“Temos avançado muito ao longo dos anos. Se comparamos com 2003 ou 2013, o mundo da Ciência e Tecnologia avançou bastante em temas de igualdade de gênero. Vejo o futuro da tecnologia ao mesmo tempo, brilhante, por conta da evolução constante que estamos vivendo, e problemático, pelos desafios tão estruturais que, ainda, experimentamos”, afirma Alejandra Yacovodonato, Fundadora e Diretora da ONG Fly Educação

Ela diz que acredita que todas e todos precisam de mais aliados para “preencher o mundo STEM com diversidade e Inclusão. Precisamos ter coragem de ter conversações incontornáveis no mundo corporativo e acadêmico, e mudar o olhar heteronormativo que, até agora, vem ocupando esse espaço”, completa.

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