Por Gaia Maria 

A humanização como o único meio para a evolução.

Sim, o ODS Zero não faz parte da lista oficial da ONU, que estabeleceu 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, começando pelo ODS 1, erradicar a fome. O ODS Zero enfatiza a importância do desenvolvimento pessoal e interpessoal como base para alcançar metas mais amplas de sustentabilidade e bem-estar coletivo, conceito idealizado pelo empreendedor e investidor Marco Gorini. No decorrer da leitura, perceberão que faz todo o sentido olhar para o ODS Zero como um conceito fundamental para o sucesso dos demais.

Em discussões com colegas do setor, a potência da IA e os desafios relacionados à sua rápida evolução e implementação de sistemas automatizados, contrastados com a lentidão do sistema regulatório, têm sido pontos frequentes. Receita perfeita para o caos social se instalar, principalmente num país subdesenvolvido como o Brasil. Este cenário me motiva a adotar o ODS Zero como chave para um futuro justo e igualitário. 

Considerando a urgência em discutir o avanço acelerado da inteligência artificial, este artigo explora a interseção entre o conceito de “ODS Zero” que se baseia no autoconhecimento e empatia, e o progresso da IA, sugerindo que a humanização é essencial não apenas para a evolução tecnológica, mas também para um progresso social sustentável.

À medida que a inteligência artificial constrói novos processos de produção, otimizando tempo e recurso humano e até remodelando a interação humana, nos deparamos com um ponto muito sensível: como garantiremos que essa maravilhosa ferramenta seja usada de maneira que beneficie a todos, não aumentando ainda mais a disparidade entre as classes sociais? Acredita-se que podemos encontrar na implementação de princípios empáticos e humanísticos, a espinha dorsal do ODS Zero.

Ao nos aprofundarmos nas complexidades e oportunidades da implementação da inteligência artificial, observaremos como o autoconhecimento e a empatia não são apenas valores altruístas, mas também componentes essenciais para um futuro onde a tecnologia e a humanidade andem juntas, já que o sistema regulatório está aquém.

O INEGÁVEL POTENCIAL DA IA EM ACELERAR O PROGRESSO.

Apesar dos desafios e necessidades de regulamentação destacados, é inquestionável dizer que a IA também oferece um imenso potencial de acelerar o progresso do alcance de metas, fornecendo soluções inovadoras, otimizando processos e facilitando a tomada de decisão baseada em dados.

Não é de hoje que ouvimos e vemos muito sobre IA e os ganhos que ela proporciona nas áreas da saúde, finanças, transporte e logística, agronegócio, educação ou automatização –, tudo isso atrelado a um alto ganho de produtividade, eficiência operacional e melhoria da qualidade de trabalho, pois permite que nos concentremos em atividades mais complexas e criativas, deixando de lado tarefas repetitivas e manuais.

No agronegócio, podemos observar enormes benefícios. A IA facilita a tomada de decisão com base no rápido cruzamento de dados, como custo de insumos, identificação de pragas e doenças, opções de prevenção e tratamento, manejo de culturas, momento ideal para venda, entre outros. Assim, a inteligência artificial tem o potencial de aumentar significativamente a eficiência, produtividade e a rentabilidade dos agricultores. Atualmente, fica difícil encontrar uma área que não tenha um grande ganho com a implementação da IA, mas a questão é, estamos preparados para a transição de empregos mais baseados em tecnologia?

Acompanhar a evolução tecnológica exige um foco renovado na educação e no desenvolvimento de habilidades, essenciais para a transição para um mercado de trabalho mais tecnológico, a exemplo da “Revolução Industrial”.

REGULAÇÃO EM TEMPOS DE INOVAÇÃO ACELERADA: ENCONTRANDO O EQUILÍBRIO

Esse descompasso entre inovação tecnológica e regulamentação é um desafio particularmente agudo para países em desenvolvimento, como o Brasil.

Enquanto a inovação tecnológica avança a passos largos, o sistema regulatório luta para manter o ritmo. Esta disparidade entre a rápida implementação da tecnologia e a capacidade de resposta dos mecanismos regulatórios cria um vácuo que pode ter implicações significativas para os trabalhadores e consumidores. Neste contexto, destaca-se a nossa corresponsabilidade perante o potencial agravamento da desigualdade social. Ao optarmos por atendentes ao invés de sistemas automatizados, nós, enquanto consumidores, enfatizamos a importância de investir na capacitação de funcionários para futuras realocações. Desta forma, nós consumidores demonstramos a valorização de empregos humanos e freamos a implementação de sistemas automatizados. É notória a entrega em grande escala de serviços automáticos e repetitivos, além de benéfica para a mão de obra, usando mais o intelecto que a força física por repetições, mas para tal se faz necessário e urgente um programa de capacitação. As nossas escolhas diárias desempenham um papel fundamental na mitigação dos impactos sociais.

Essa “regulação forçada” por nós, consumidores, complementa, mas não substitui, a necessidade de políticas públicas e de regulamentação, para pressionar as empresas por ações mais equilibradas e inclusivas ao implementarem novas tecnologias.

CONSUMIDORES COMO AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO

Precisamos enfrentar as consequências de nossas escolhas e ações, não somente como indivíduos, mas como uma sociedade coletiva. Cada decisão que tomamos, grande ou pequena, impacta o mundo ao nosso redor, incluindo colegas, família e o meio ambiente. Temos a responsabilidade coletiva de agir conscientemente para preservar e proteger o mundo para as gerações atuais e futuras. Já estamos sentindo na pele, seja nas intensas alterações nas temperaturas com a mudança climática, ou na insegurança que assola as ruas, causada pela marginalidade, consequência da extrema desigualdade social.

Nos últimos anos, temos testemunhado uma transformação notável em supermercados e redes de fast food, como na implementação de caixas eletrônicos no McDonald’s. Essas mudanças, apesar de oferecerem conveniência, também levantam questões importantes sobre o impacto nos empregos. Devemos refletir sobre as implicações sociais e econômicas dessas mudanças. Como consumidores, nossas escolhas têm o poder de moldar a direção do mercado de trabalho, já que o sistema regulatório anda a passos lentos.

EMPATIA COMO ESTRATÉGIA DE SUCESSO: TRANSCENDENDO A REGULAMENTAÇÃO NA GOVERNANÇA CORPORATIVA

Transformando a governança para um futuro sustentável.

A importância da empatia na liderança, sustentada pelo autoconhecimento, é fundamental para o desenvolvimento de uma empatia genuína. Ao compreendermos nossas próprias emoções e limitações, melhoramos a interação e os relacionamentos interpessoais.

Tomo a liberdade de trazer um recorte para os resultados notáveis que uma empresa centenária e familiar tem alcançado. Suas conquistas em sustentabilidade, responsabilidade social e inovação refletem o tipo de liderança que prioriza o bem-estar humano e a redução dos impactos ambientais, além do lucro financeiro. Curiosamente, seu presidente explorou o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), adotado no Butão. Criado pelo rei Jigme Singye Wangchuk, o FIB é formado por um grupo de indicadores que mede a satisfação pessoal e espiritual de pessoas e comunidades. Sob a liderança atual, a empresa, uma das principais produtoras de aço do mundo, alcançou resultados impressionantes em 2022, o melhor resultado em sua longa história. Esses sucessos são atribuídos não apenas a estratégias financeiras, mas também ao foco na espiritualidade e bem-estar dos funcionários.

De acordo com uma entrevista para a IstoÉ!, o CEO da siderúrgica disse que a preocupação da organização é mais do que os preços dos produtos ou cifras de investimento, mas o olhar em saber como está a espiritualidade das pessoas, como elas investem seu tempo e até em como está a qualidade do seu sono. Afirmou que as diversas iniciativas implementadas para dar suporte aos seus mais de 36 mil funcionários em todo o mundo, como a assistência psicológica para toda a família, flexibilidade de jornada e respaldo financeiro, refletem nos resultados do balanço financeiro. Uma outra iniciativa foi a de encurtar o pagamento dos pequenos fornecedores para o mesmo dia, antes muito comum o pagamento ser programado para 30 ou 60 dias. São esses os cuidados que fortalecem toda a cadeia e, se nos aprofundarmos nas outras frentes da empresa, vamos perceber outras iniciativas, como, por exemplo, 71% do aço produzido ter a sucata metálica como matéria-prima. São 11 milhões de toneladas de sucata metálica reciclada anualmente, sendo a maior recicladora da América Latina. A companhia vive o melhor momento de sua história. Aproveito para trazer um pensamento embasado nos princípios do sociólogo Betinho, em que defende o compromisso pelo bem-estar e a valorização das pessoas. – As organizações que colocam as pessoas no coração de suas operações não apenas cultivam a justiça e a humanidade, mas também semeiam as sementes de um sucesso duradouro. – As ações compartilhadas aqui, demonstram a empatia e o cuidado ético, guiados por valores humanísticos. Valores esses que tendem a estender essa abordagem para suas práticas tecnológicas. Com isso, a IA é vista como um meio poderoso para alcançar objetivos mais amplos de sustentabilidade social e ambiental quando devidamente direcionada e não somente para aumentar a eficiência e a lucratividade da empresa. Isso cria um ciclo virtuoso no qual o cuidado com as pessoas dentro da organização se reflete em ações que favorecem o bem-estar coletivo, estabelecendo um padrão para a inovação tecnológica responsável e sustentável.

GOVERNANÇA COM CORAÇÃO: O PODER DA EMPATIA NA LIDERANÇA MODERNA

Influenciando a governança e as práticas organizacionais, levando a mudanças significativas e benéficas.

Concluindo, à medida que avançamos na era da inteligência artificial, é imperativo que sua implementação seja conduzida de forma consciente e responsável. A IA tem o potencial de impactar profundamente a sociedade, e um avanço equilibrado e inclusivo é fundamental. Organizações que adotam a IA devem ter um compromisso intrínseco quanto às implicações sociais e éticas. Levando em consideração o avanço nas mesmas medidas, requalificando e gerando oportunidades de uma educação contínua e assegurando que os trabalhadores não sejam deixados para trás.

As soluções de IA devem ser projetadas considerando a diversidade de usuários em mente, evitando a seleção de apenas um grupo, promovendo a equidade. É vital que as organizações trabalhem em um quadro regulatório que acompanhe o ritmo da inovação tecnológica. Uma governança eficaz e perspicaz da IA não só protegerá os indivíduos e a sociedade contra malefícios, mas também incentivará o uso responsável e ético da tecnologia.

Bom, percorremos casos práticos, desafios éticos e as possíveis trajetórias que essa fusão de humanidade com tecnologia pode nos levar, onde a verdadeira inovação e progresso ocorrem quando a tecnologia serve à humanidade, e não o contrário.

Vamos juntos buscar por ações mais justas e igualitárias?
Fonte: https://exame.com/agro/ia-para-agricultura-oportunidade-ou-desafio/

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