Por Carolina Mestriner
Desde 2008, ano da Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência realizada pela ONU, da qual o Brasil é um dos signatários, o dia 2 de abril dá a largada para uma grande campanha mundial de conscientização acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O propósito da ONU é incentivar o debate e o conhecimento em torno do assunto e combater o capacitismo no dia a dia de autistas e seus familiares. A cor azul foi escolhida para marcar a campanha, e tem sido usada para iluminar monumentos e prédios públicos mundo afora.
Enquanto a data de abril é vista como uma campanha motivada por pais e familiares de pessoas com TEA, a comunidade formada por autistas mais ativistas e autônomos definiu uma data diferente para comemorar o Dia do Orgulho Autista, o 18 de junho. Para eles, um dia de diversão despreocupada, para reconhecer e festejar com orgulho sua neurodiversidade.
Voltando 80 anos no tempo, o primeiro diagnóstico de autismo foi feito em 1943, pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Estima-se que 2 milhões de pessoas vivam com algum espectro do autismo no Brasil. O diagnóstico precoce continua sendo essencial para garantir desenvolvimento e qualidade de vida, mas os casos de pessoas diagnosticadas já adultas têm se tornado cada vez mais comuns, e trazido entendimento a essas pessoas e seus familiares sobre as experiências complexas da infância e adolescência.
Desde sua primeira descrição, o autismo ganhou novos termos, formas de diagnóstico e terapias. Hoje, fala-se em crianças neurotípicas, sem transtornos ou deficiências mentais, e crianças neuroatípicas, neurodivergentes ou neurodiversas, que incluem autismo e dislexia, por exemplo. A maternidade pode ser típica ou atípica. Evita-se tratar o autismo sob uma perspectiva de cura, já que não é uma doença. O movimento pela neurodiversidade, iniciado por ativistas autistas, nasceu inspirado nos estudos da socióloga australiana e também autista Judy Singer, que publicou seu primeiro trabalho sobre o conceito de neurodiversidade em 1998. Para Singer, não há um “normal” neurológico a que todos devemos aspirar e corresponder, mas variações tão múltiplas quanto os genes, ecossistemas e espécies existentes na natureza.
Para a medicina, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que não se manifesta em características físicas, sendo considerada uma deficiência invisível, classificada de acordo com a intensidade de sua manifestação, em três categorias: o transtorno de grau 1 é o mais leve, de baixo suporte; o de grau 2 é moderado, e o de grau 3, o mais severo, é aquele que demanda maior apoio terapêutico e familiar. Por todo o Brasil existem instituições que se dedicam a investigar novas formas de diagnósticos e tratamentos, como o Instituto PENSI, de São Paulo, e o Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Autismo (LABIRINTO), da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública de Salvador, que publicou um manual com as considerações dos principais especialistas em autismo no Brasil. Ou que prestam apoio a pessoas com TEA e seus familiares, como as ONGs Viv(a)! Associação Viver Autismo, Associação dos Amigos da Criança Autista e GAIA, que atuam no estado de São Paulo. Outras instituições podem ser encontradas nesta relação organizada pelo Instituto Autismo & Vida.
Para os que gostam de podcasts, uma boa maneira de se aproximar do assunto é ouvindo o Introvertendo – Autismo por Autistas, o primeiro podcast do Brasil feito por seus protagonistas. Lançado em 2018, já produziu mais de 200 episódios em que seus apresentadores e convidados conversam sobre Síndrome de Asperger, vida universitária, bullying, amor, ódio, Copa do Mundo, religião, sexualidade, entre outros assuntos comuns à vida de qualquer pessoa, e particulares das pessoas com TEA. Não há jeito melhor de (se)conscientizar e combater estigmas do que disseminando conhecimento sobre aquilo que a princípio nos parece estranho apenas porque diferente de nós.
Fontes: Autismo e Realidade; Instituto Autismo & Vida.
GRANDIN, Temple; PANEK, Richard. O cérebro autista. Rio de Janeiro: Record, 2016.
MANUAL LABIRINTO para o diagnóstico de autismo e sintomas associados. PONDÉ, Milena P.; SIQUARA, Gustavo M.; WANDERLEY, Daniele de B. (Org.). Salvador: Ed. do Autor, 2021.
ROSOLEN, Dani (org.). Dicionário de inovação: 50 conceitos da nova economia que você precisa compreender hoje. São Paulo: E-galáxia, 2022.