Por Carolina Mestriner

Em janeiro deste ano de 2023, foi sancionada uma lei no Brasil instituindo o dia 21 de março como o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, em mais um esforço governamental para combater o racismo e a intolerância religiosa no país. A iniciativa brasileira atende a um chamado da ONU feito anos antes, que definiu a data como o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, em memória do Massacre de Shaperville, ocorrido na África do Sul, em 21 de março de 1960, durante manifestações populares contra o sistema racista e excludente do Apartheid (1948-1994). No Portal Geledés é possível ver um ensaio fotográfico sobre o protesto pacífico e a reação violenta da polícia, que resultou na morte de 69 pessoas. 

Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o “racismo destrói vidas e reduz oportunidades, impedindo que bilhões de pessoas desfrutem de seus plenos direitos humanos e liberdades”. Embora o racismo esteja associado a um conjunto de teorias e práticas ligadas ao conceito de raça, à ideia de que uma raça possa ser superior e ter direitos sobre outra, num sentido muito mais amplo do que o praticado contra a população negra, é exatamente disto que trata a campanha da ONU e a nova Lei nº 14.519 brasileira: eliminar a discriminação racial contra pessoas de pele negra no Brasil e no mundo. 

É importante lembrar que o combate ao racismo não é uma luta dos movimentos negros espalhados pelo mundo, é uma luta de todos porque é uma luta pelos direitos humanos, e pela consciência de que todos são humanos, uma vez que o racismo desumaniza o outro para negar seus direitos, sua dignidade, e muitas vezes sua vida. O estigma da cor da pele, que pesa sobre a população negra até hoje, não pode prevalecer num país multicolorido e multicultural como o Brasil.

O Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé representa, antes de tudo, uma política cultural de valorização de tradições brasileiras, preservadas e praticadas por pessoas com e sem raízes africanas, mas com afinidades diversas que devem ser respeitadas todos os dias do ano. 

A arte e a cultura são armas potentes no combate ao racismo e a todos os tipos de preconceitos. Quando o ator e dramaturgo Abdias Nascimento (1914-2011) inaugura no Rio de Janeiro o Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944, ele sabia desse potencial. Foi a primeira vez que artistas afrodescendentes puderam de fato participar do cenário teatral brasileiro. Todas as atividades do grupo foram pensadas para valorizar socialmente a herança cultural, a identidade e a dignidade afro-brasileira. Até então, era bastante comum ver personagens negros serem representados por atores brancos tingidos de preto, e foi assistindo a uma peça assim que Abdias decidiu criar o TEN, um bom exemplo de união entre o teatro e o combate ao racismo. 

Iniciativas antirracistas são importantes em todos os setores da sociedade porque discriminações e violências baseadas na estigmatização da pele preta seguem acontecendo e afrontando a dignidade humana.  

Fontes: ONU; Portal Geledés e Museu Afro Brasil Emanoel Araujo.

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