Por Egidio L. Dórea
O sistema de saúde é considerado um dos locais onde os idosos sofrem mais preconceito. Faz-se necessário entender as suas causas e impacto.
À medida que envelhecemos existe uma maior probabilidade de termos doenças que necessitam de cuidados crônicos como: doenças cardiovasculares, neoplásicas e pulmonares, diabetes mellitus, osteoartrite, dentre outras. Os serviços de saúde, incluindo os seus profissionais, deveriam estar preparados para um melhor acolhimento e atendimentos às necessidades dos mais velhos. Entretanto, o que se observa, há décadas, independentemente de estarmos vivendo um aumento significativo na nossa longevidade e um aumento da taxa de idosos, que atualmente representa 16% da nossa população, ou seja, mais de 34 milhões de pessoas, é o oposto. Número reduzido de profissionais com formação gerontológica ou pouco sensibilizados para as necessidades do idoso; ambientes pouco acolhedores e dimensionados para as limitações impostas pelo envelhecimento; e políticas que não priorizam as populações mais vulneráveis. Qual a origem desse descaso com os mais velhos?
Estigmatizamos o idoso. E isso significa vê-lo como uma ameaça ao bem-estar social e econômico da nossa sociedade. E, com isso, o deixamos à parte, os tornando invisíveis. Essa invisibilidade é refletida na ausência, na falta de continuidade e de representatividade dos idosos nas políticas públicas. Eles não têm voz. Medidas são adotadas por pessoas, em geral mais jovens, sem que as reais necessidades dos idosos sejam ouvidas. E, mesmo quando essas ações beneficiam os mais velhos, muitas delas não conseguem persistir frente aos interesses políticos e econômicos do momento.
O estudante, ao iniciar sua formação na área da saúde, é deparado com ensinamentos e práticas em grandes áreas como pediatria, saúde do adulto, do homem e da mulher, mas a saúde do idoso é esquecida. E, quando o contato existe, em geral ele se dá com idosos que representam todos os estereótipos que incorporamos e tememos, e que por isso tendemos a estigmatizá-los: dementes, imobilizados, fragilizados e em processo de terminalidade. Essa é uma face para a qual temos que estar preparados, mas que não é a única nesse processo tão importante e complexo que é o envelhecer. Isso faz com que o cuidado do idoso passe a ser visto pelo profissional da saúde como desgastante e de pouco retorno emocional e financeiro. Consequentemente, poucos estudantes, ao se formarem, optam pela carreira geriátrica ou gerontológica; ou se interessam ao longo da sua formação e atuação profissional em adquirirem conhecimentos para melhor atender essa população.
Pesquisas mostram que…
Apesar das pessoas mais velhas, em geral, terem mais doenças e às vezes limitações físicas que determinam um tempo maior para o deslocamento até a mesa do exame e realização do mesmo, as suas consultas médicas têm uma menor duração, quando comparadas a de pacientes mais jovens. E, se o idoso, independentemente do seu estado cognitivo, for a uma consulta médica com um acompanhante, o médico raramente se dirige ao idoso. É o paciente invisível. As instituições de saúde são consideradas como um dos locais mais idadistas. Quando os pacientes foram questionados sobre os aspectos pelos quais se sentiram discriminados, a idade foi considerada o principal dentre cor, estado financeiro, sexo, religião e orientação sexual. E essa discriminação correlacionou-se com maior risco futuro de perda de capacidade funcional.
Profissionais de saúde pautam as suas condutas por evidências. Diretrizes, baseadas em estudos científicos, são lançadas e atualizadas periodicamente para as diversas patologias. Porém, raramente os idosos são incluídos nesses estudos e muitas vezes a idade é adotada como critério de exclusão. Isso faz com que as recomendações de tratamento para essa população caiam no nível de menor evidência, ou seja, não se sabe ao certo seus riscos e benefícios. Muitas vezes tratamentos e exames de rastreio não são indicados pela idade da pessoa. Sem levar em consideração todos os outros aspectos que diferenciam um indivíduo do outro, além da idade.
Vivemos em um mundo que está envelhecendo continuamente e cada vez mais teremos idosos que representam a complexidade e riqueza do envelhecer. Não podemos pautar nossas condutas por estereótipos antigos e restritivos. Os alunos e profissionais de saúde deverão estar mais preparados para a essa nova realidade. Noções de envelhecimento deveriam ser adotadas em todas as escolas, desde a formação primária, para que o idoso deixe de ser visto como um estigma. Eles devem ser vistos pelo seu real valor: passado, presente e futuro.
2 respostas
Além das discriminações acima mencionadas, existe também a de raça.
sou de origem latina, e me trato no Servidor Público, já ouvi tantas besteiras…
Uma Infectologista me perguntou o que Fazia perdida em São Paulo, ignorando a diversidade cultural da cidade de SP.
Sou a Valéria da Silva, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor, parabéns nota 10.
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