povosindigenas

Por Carolina Mestriner

No dia 19 de abril de 2023 celebra-se o Dia dos Povos Indígenas no Brasil (e não do índio), graças ao projeto de lei nº 14.402, de 8 de julho de 2022, proposto pela então deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR). Joenia foi nomeada para a presidência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em janeiro deste ano. E é a primeira vez que uma mulher indígena, da etnia Wapichana, assume esse cargo. Assim como a deputada Sônia Guajajara, é a primeira mulher da etnia Guajajara/Tenetehára, no comando do Ministério dos Povos Indígenas. Esses acontecimentos, por si só, revelam importantes mudanças na realidade brasileira. Dão substância a essa data comemorativa. Para as representações indígenas, a mudança é importante porque ajuda a desconstruir a ideia de que “índio” é uma gente só. Na realidade, são mais de 300 povos vivendo no Brasil, cada um com suas particularidades, costumes e língua, vivendo em condições e regiões distintas. Por isso, “povos indígenas” é o termo mais adequado para representar toda essa diversidade. E a verdadeira comemoração está em (re)conhecê-la, respeitá-la e defendê-la do preconceito e da destruição. 

Conversamos com Luis Pablo Trentin Mack, que tem um belo trabalho fotográfico com a cultura indígena, iniciado há mais de 20 anos. Parte dessas imagens foi apresentada na exposição “Origens”, realizada na Unibes Cultural em 2022. O fotógrafo percorreu com sua câmera, comunidades indígenas em diferentes estados brasileiros, de diferentes etnias e culturas, desde os Kaingang do sul do Brasil aos Huni Kuin do Acre. Durante suas viagens por esses territórios, reuniu um rico arquivo visual do artesanato, pintura corporal, arte plumária, manifestações religiosas e culturais dos povos que visitou. Perguntamos a ele como essa história de respeito e admiração começou.

1. Quando se deu seu primeiro contato com uma comunidade indígena e o que te impactou nesse encontro? Que questões te provocou? 

Meu primeiro contato com os povos originários se deu no ano de 1990, quando me mudei do Rio Grande do Sul para o Mato Grosso, para a cidade de Água Boa, terra xavante. Lá tive uma observação que me deixou muito incomodado, pois a cidade convidou uma das aldeias próximas para desfilar no dia 7 de setembro daquele ano, talvez a primeira vez do contato entre ambos, e senti o quanto as mulheres indígenas nuas se sentiam absolutamente constrangidas com os olhares, risos e comentários. Isso me tocou e me impulsionou a entender o distanciamento de um olhar cultural de diferenciação que precisava ser discutido. Posterior a isso, iniciei meu trabalho pedagógico e tive a oportunidade de estar junto das aldeias acompanhando o processo disciplinar, que incluía a língua originária no ensino dentro das comunidades, acompanhei formaturas de crianças e adultos e todo o processo da formatação de material pedagógico. Alguns desses registros fotográficos primários sem pretensão estão em minha galeria. 

2. Que mudanças você percebe entre o período do seu primeiro contato e os dias de hoje em relação à realidade dos povos indígenas no Brasil? 

Como estive presente no período de colonização das terras no Mato Grosso, sempre presenciei o conflito dos agricultores sobre as terras indígenas e seus conceitos sobre o que significam, a mesma retórica persiste nos dias atuais e a questão das demarcações dessas áreas já nem deveria mais ser discutida, toda terra indígena deveria ser demarcada já há muito tempo, cada ano que passa mais e mais problemas, conflitos e mortes acontecem diante da situação! A própria significância do termo índio para o termo indígena é resultado de agressões verbais e dessa luta diária, acredito que com o passar do tempo teremos a ressignificação dessa palavra tal qual nos mais de 50 livros de Darcy Ribeiro, empoderando com amor a palavra “índio”, que também sempre utilizei com toda afetividade e respeito! 

3. O que você imagina para o futuro do país em relação ao meio ambiente e aos povos originários? 

Terras indígenas todas demarcadas, fim das invasões territoriais por garimpo ilegal, agricultura, pecuária, tradições culturais preservadas em arquivos, as mais de 180 línguas indígenas, catalogadas e publicadas, arquivo de registro medicinal e registro da espiritualidade originária, afastamento das religiões cristãs que demonizam a espiritualidade e os rituais de pajelança, cada vez mais representantes políticos indígenas no poder, como Sônia Guajajara, (orgulho de ter votado nela), Celia Xakriaba, Joenia Wapichana. 

Conheça mais sobre as etnias citadas no artigo clicando nos nomes ou diretamente no site Povos Indígenas no Brasil https://pib.socioambiental.org/pt/P%C3%A1gina_principal

Conheça o trabalho do fotógrafo Luis Pablo Trentin Mack em: @luis.pablo.trentin.mack e https://passapraka.46graus.com/

Aqui um rico depoimento sobre a exposição “Origens” <https://www.youtube.com/watch?v=PeRdouG6vCQ&t=100s>